sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O fim da oposição de direita abre espaço para a oposição de esquerda

Bom texto encaminhado pelo professor Dalmir Francisco.

O desdobramento das pesquisas eleitorais
A frente PSDB-DEM deve sofrer um duro golpe nas eleições deste ano,
prevê João Francisco Meira, diretor presidente do Vox Populi. Vai
sobrar Aécio Neves, em Minas, Kátia Abreu em Tocantins, talvez Roseane
Sarney (embora no PMDB) no Maranhão. Cesar Maia corre o risco de não
se eleger, assim como Agripino Maia e outros caciques. A nova geração
de centro-direita, esperança de um revigoramento da oposição, será
arrasada nas eleições. Levará no mínimo oito anos para se recompor a
oposição, com todos os inconvenientes que trará para o aprimoramento
democrático do país. O artigo é de Luis Nassif.
Luis Nassif
A grande tragédia política dessas eleições será o fim quase completo
da frente PSDB-DEM, a única que poderia oferecer uma oposição
consistente ao novo governo, que será empossado em 1º de janeiro de
2011.
Não existe governo, por mais virtuoso, que resista a um mandato sem
oposição. E este é o risco que o Brasil corre, com os erros cometidos
pela oposição nas atuais eleições. A avaliação é de João Francisco
Meira, diretor-presidente do Instituto Vox Populi.
Em meados do ano passado, a partir de conversas com Meira e de
reflexões próprias, parlamentares do DEM – como o ex-deputado Saulo
Queiroz – alertaram para as dificuldades que haveria em uma provável
candidatura José Serra. Estava claro para eles a quase impossibilidade
de vitória de Serra, por um conjunto de fatores.
O alerta de nada adiantou.
Em março, durante Congresso da Associação Brasileira de Empresas de
Pesquisa (ABEP), Meira alertou mais uma vez que a eleição já estava
decidida para Dilma Rousseff. Tanto o Vox Populi quanto o Instituto
Sensus trabalhavam com modernas técnicas de pesquisa, visando
antecipar tendências do eleitorado.
A metodologia era simples. Parte relevante do eleitorado não sabia
ainda que Dilma era candidata de Lula. Mas certamente saberá no dia
das eleições. A técnica consistia em antecipar aos pesquisados as
informações. A partir daí, se chegaria a um resultado muito mais
próximo do resultado final das urnas.
No encontro, houve um forte questionamento do Instituto Datafolha,
para quem pesquisas não deveriam antecipar tendência.
É uma bela discussão conceitual. O que interessa em uma pesquisa
eleitoral: saber qual o resultado se a eleição fosse hoje ou tentar
antecipar o resultado final da eleição? A fronteira da pesquisa de
mercado é justamente antecipar tendências, explica Meira.
Nos meses seguintes, um inferno se abateu sobre os Institutos que
seguiram essa nova metodologia – Sensus e Vox Populi. Foram atacados
pelos jornais.
O momento mais dramático dessa história foi quando, estimulado pelas
matérias da Folha, o PSDB entrou na justiça eleitoral exigindo a
auditagem da pesquisa do Sensus. O Instituto amanheceu com um
estatístico convocado em São Carlos, com a polícia, para garantir a
vistoria, e com um repórter da Folha (empresa proprietária do
Datafolha) para escandalizar o acontecimento.
Não se encontrou nenhuma irregularidade na pesquisa. Mais que isso, à
medida que os dias iam passando, confirmava-se integralmente o acerto
do Sensus e do Vox. O próximo desafio de Meira será produzir um
trabalho acadêmico a respeito das conseqüências do viés das pesquisas.
Em um primeiro momento, aumentou a desinformação da opinião
pública.Agora, há muita gente perplexa com um resultado que já era
previsível desde o ano passado.
Ao comprar a ideia de que Serra era competitivo, contra toda a
evidência de um ano atrás, a oposição acabou indo para o caminho que
Lula queria.Meira equipara esse episódio às grandes tragédias
shakespeareanas, de desdobramentos terríveis quando se toma a decisão
errada na política, na guerra e no amor. Os fatos acabam voltando no
meio da sua testa, com fúria redobrada.
Caminhos alternativos
Se não se tivesse embarcado nessa armadilha das pesquisas com viés, a
oposição teria tomado outro caminho. Constataria que Lula inaugurou um
novo tempo na política brasileira e tentaria se adequar a esse novo
cenário, pensando em um pacto progressista, que permitisse reformas
estruturais do Judiciário, reforma fiscal, estrutura tributária. Não
venceria as eleições, mas sairia preservada.
A queima das caravelas
Em vez disso, queimaram-se as caravelas e se chegou ao final da
tragédia, com a aniquilação quase completa da estrutura DEM-PSDB. Vai
sobrar Aécio Neves, em Minas, Kátia Abreu em Tocantins, talvez Roseane
Sarney (embora no PMDB) no Maranhão. Cesar Maia corre o risco de não
se eleger, assim como Agripino Maia e outros caciques. A nova geração
de centro-direita, esperança de um revigoramento da oposição, será
arrasada nas eleições.
O final da tragédia
Levará no mínimo oito anos para se recompor a oposição, com todos os
inconvenientes que trará para o aprimoramento democrático do país. O
final da tragédia será em São Paulo. Geraldo Alckmin será eleito,
possivelmente com folga. Mas há grande probabilidade de Serra perder
no seu próprio estado, a partir do qual se produziu a fantasia que
liquidou com a oposição em todo país.

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